R$ 27 milhões para construção da maior planta de H2V do planeta
A espanhola Solatio Energia Livre iniciou a construção da maior usina de hidrogênio verde do planeta no estado do Piauí em um investimento inicial de R$ 27 milhões para produção em escala industrial. A obra começou a supressão vegetal e limpeza de 154 hectares dentro da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) de Parnaíba, no litoral do estado. Essa parte corresponde à primeira etapa da obra e deve gerar mais de 2 mil empregos diretos.
Com os recursos e a planta, o negócio consolida o Piauí como um dos territórios mais promissores na cadeia global de combustíveis limpos. A usina produzirá 400 mil toneladas de hidrogênio verde e 2,2 milhões de toneladas de amônia verde por ano em sua capacidade total, atendendo à crescente demanda da Europa e de outros mercados por alternativas energéticas sustentáveis. A escolha do Piauí para abrigar o projeto se deve a dois recursos abundantes no estado para a produção de H2V: abundância de água no subsolo e energia limpa produzida localmente. Aliado a isso, há o compromisso do governo do Estado em apoiar iniciativas que promovam investimentos nas energias renováveis e a crescente demanda mundial, principalmente da Europa, pelo uso de combustíveis limpos como alternativa aos combustíveis fósseis. “Não poderia ser em outro lugar, além do Piauí, por sua potencialidade natural: abundância de energia renovável, recursos hídricos e uma política estadual comprometida com a transição energética, sendo o tema uma prioridade do governador do Piauí, Rafael Fonteles”, destaca Júnior Fonseca, diretor de projetos da Solatio.
A limpeza do terreno deve durar de cinco a sete meses atendendo todas as normas de proteção ambiental e preservação da fauna da região. Posteriormente, as obras civis serão iniciadas com a construção de edifícios e instalações elétricas e hidráulicas, culminando com a instalação dos equipamentos. A previsão é que a usina entre em operação no segundo semestre de 2029, mas a capacidade plena será atingida apenas após a conclusão de todas as etapas, prevista para 2031. Ao sair na frente com o investimento, a Solatio torna-se a primeira empresa do mundo a apostar na produção de H2V em larga escala. Todas as demais unidades de produção desse combustível operam em pequena escala.
A CEO da Associação Brasileira da Indústria de Hidrogênio Verde (ABIHV), Fernanda Delgado, destaca a importância da usina do Piauí para o setor. “Um projeto dessa magnitude coloca o estado no cenário internacional como produtor e fornecedor de amônia, metanol e SAF (combustível sustentável de aviação)”, afirma. O governador do Piauí, Rafael Fonteles, acredita que esse projeto irá transformar a economia do estado e da região, e também gerar um grande impacto muito positivo no planeta. “O que o Piauí está fazendo aqui impacta o mundo. Trata-se de um marco na transição energética global, com geração de empregos, renda e desenvolvimento regional”, afirmou o governador Rafael Fonteles. A primeira fase da obra deve gerar 2,3 mil empregos diretos até 2031, além de centenas de postos qualificados na operação permanente da planta. Segundo a Solatio, engenheiros, técnicos e especialistas estarão entre os profissionais mais demandados, impulsionando o mercado de serviços em Parnaíba e entorno.
O projeto também deve atrair indústrias como fábricas de fertilizantes, aço verde e manutenção de equipamentos industriais. O vice-presidente da Agência de Atração de Investimentos Estratégicos do Piauí (Investe Piauí), Ricardo Castelo, lembra que 95% dos fertilizantes usados no Brasil são importados e, portanto, a amônia produzida no Piauí será cobiçada. “Com a amônia produzida no estado, o Piauí se tornará um mercado estratégico para a instalação de uma indústria de fertilizantes”, explica. Outro setor interessado no hidrogênio verde é o da siderurgia, que pode usar o combustível limpo para fabricar o chamado aço verde — altamente valorizado no mercado europeu. “O Piauí já produz minério de ferro no município de Piripiri. Se uma empresa instalar uma unidade próxima à usina e usar o hidrogênio verde como fonte energética, o aço que sairá de lá será classificado como verde”, diz Álvaro Nolleto, presidente da ZPE de Parnaíba.
Para produzir H2V, a usina da Solatio irá consumir 3 GW de energia, o triplo do que todo o Piauí consome e uma quantidade impressionante de energia utilizada pela empresa já trará benefícios para o Piauí, por meio de impostos. Atualmente, o Piauí produz 7 vezes mais energia (99% limpa) do que consome, e o excedente vai para o sistema nacional de energia, que distribui para regiões que consomem mais. O imposto (ICMS, por exemplo), fica nos estados que mais consomem. Com esse alto consumo da Solatio, o consumo de 3 GW ficará no Piauí, que, portanto, arrecadará impostos.
A limpeza do terreno é acompanhada por engenheiros, biólogos, agrônomos e veterinários, que monitoram a fauna e a flora. De acordo com o engenheiro Pablo Aguiar, responsável pela supressão vegetal da área, dentre as medidas adotadas estão o uso de sons para afastar animais antes da movimentação das máquinas, a interrupção imediata das operações em caso de identificação de ninhos ou tocas ativas, a preservação integral de espécies ameaçadas — como a aroeira e a amburana —, além do registro e resgate de todos os animais encontrados. A recomposição da vegetação e a criação de viveiros são parte do compromisso ambiental da empresa, que atua com todas as licenças ambientais emitidas pelos órgãos competentes. “A empresa também está coletando mudas e preparando viveiros para o remanejamento adequado da vegetação, promovendo a recomposição da flora nativa. Toda a área em intervenção foi isolada, garantindo a segurança da população e prevenindo acidentes”, afirmou o engenheiro.
O investimento da Solatio equivale a aproximadamente um terço do Produto Interno Bruto do Piauí (PIB) do Piauí, estimado em R$ 72,8 bilhões, e é quase dez vezes o PIB do município de Parnaíba, segunda maior cidade do estado. Um movimento econômico sem precedentes na história do estado.