São Carlos terá centro de pesquisa para analisar esgotos usando IA
Um grupo de pesquisadores de São Carlos, incluindo o diretor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), professor André Carlos Ponce de Leon Ferreira de Carvalho, resolveu dar continuidade a um estudo iniciado na época da pandemia da COVID-19. Na ocasião, era necessário analisar resíduos urbanos para detectar a evolução da carga viral. Agora, a ideia é transformar o esgoto em uma fonte contínua de informações sobre a saúde, meio ambiente e qualidade de vida da população.
Com esse propósito, o município paulista vai sediar um novo Centro de Ciência para o Desenvolvimento (CCD), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), voltado à Saúde Hidrossanitária e Qualidade de Vida (SHQV).
O novo Centro conta com a parceria do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) e será coordenado pelo professor Emanuel Carrilho, do Instituto de Química de São Carlos (IQSC). Com um investimento de quase R$ 10 milhões, a previsão é que o projeto se estenda pelos próximos cinco anos. “Estamos falando de um modelo que pode transformar o modo como as cidades monitoram a saúde pública e o meio ambiente. A IA será a ponte entre os dados coletados e as ações que podem melhorar a vida das pessoas”, afirma o professor André de Carvalho. As ferramentas de inteligência artificial (IA) serão utilizadas para cruzar informações químicas, biológicas e socioeconômicas, revelando padrões que podem ajudar a prever e prevenir doenças, mapear poluição e orientar políticas públicas.
O Centro de Ciência para o Desenvolvimento vai coletar amostras de esgoto semanalmente em pontos estratégicos de São Carlos que serão georreferenciadas, ou seja, associadas a cada bairro de origem. Cada coleta permitirá identificar a presença de microrganismos, vírus, bactérias, parasitas, hormônios, pesticidas, metais pesados e resíduos de medicamentos. Quando esses dados são cruzados com indicadores de saúde, educação e renda, formarão um retrato inédito da cidade. “Com essas informações, poderemos antecipar o surgimento de doenças (pandemias), localizar fontes de contaminação industrial e até reconhecer padrões de consumo de substâncias em diferentes áreas da cidade”, explica o professor Carrilho, do IQSC. O docente explica que o objetivo é que ao final destes cinco anos, o projeto possa ser replicado em outras cidades, ajudando gestores a tomar decisões mais eficientes e baseadas em dados reais.
Além dos professores do IQSC e do ICMC, o CCD-SHQV contará com a colaboração da professora Fernanda Aníbal, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), especialista em parasitologia e infectologia; e da pesquisadora Débora Milori, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), responsável pela análise de metais e contaminantes inorgânicos. O novo Centro também prevê a participação ativa de estudantes de graduação e de pós-graduação, oferecendo bolsas de pesquisa e capacitação em ciência de dados, química ambiental e biologia molecular. “Será uma oportunidade ímpar de formação e de desenvolvimento de métodos analíticos aplicados a um problema real, com impacto direto na sociedade”, conclui o professor Carrilho.
Além do novo Centro sediado em São Carlos, outros 33 projetos foram aprovados no 4º edital do programa Centros de Ciência para o Desenvolvimento (CCD) da Fapesp. A chamada, que prevê um investimento total de R$ 256 milhões, estimula parcerias entre universidades, órgãos públicos, empresas e organizações sociais para gerar resultados científicos aplicados a desafios estratégicos do Estado de São Paulo. Com essa nova rodada, a Fapesp passa a apoiar 83 centros de pesquisa voltados à solução de problemas concretos da sociedade paulista.