Cientistas pedem limite no uso antes da COP30
Às vésperas da COP30, a conferência sobre mudanças climáticas que começa na próxima semana em Belém, Brasil, mais de 100 membros da comunidade científica global, incluindo representantes da União de Cientistas Preocupados e do Instituto de Recursos Mundiais, assinaram uma carta em que pedem aos líderes mundiais que limitem a expansão perigosa dos biocombustíveis. A carta surge num momento em que o Brasil busca apoio de alto nível para a promessa de seus líderes de quadruplicar o uso dos chamados “combustíveis sustentáveis” — incluindo a duplicação do consumo de biocombustíveis — como um componente importante da resposta da comunidade internacional à crise climática.
Mas evidências científicas crescentes mostram que, longe de ser uma solução amiga do clima, como muitos governos afirmam, essa fonte de energia é responsável, em média, por 16% mais emissões do que os combustíveis fósseis que substitui. Estima-se que dobrar a produção de biocombustíveis aumentaria as emissões líquidas globais de gases de efeito estufa em quase 34 MtCO₂e anualmente, o equivalente a colocar 30 milhões de novos carros a diesel nas ruas. A carta também alerta que tal expansão teria impactos ambientais devastadores em algumas das regiões com maior biodiversidade do mundo, consumiria recursos hídricos escassos e contribuiria para o escoamento agrícola. Além disso, os cientistas advertem que o aumento do uso de biocombustíveis agravará a fome global, elevando os preços dos alimentos, intensificando a volatilidade dos preços e desviando calorias do consumo humano.
A contenção do uso irrestrito de biocombustíveis não é inédita. Em 2020, a UE concordou em limitar os biocombustíveis convencionais (de primeira geração) derivados de culturas agrícolas a uma quota de 7% da sua energia para transportes, enquanto os biocombustíveis à base de resíduos e restos são limitados a 1,7%, com o objetivo de incentivar inovações em combustíveis e reduzir os impactos no uso da terra. Em países produtores de biocombustíveis, como o Brasil e a Indonésia, ONGs locais estão defendendo uma abordagem holística para gerenciar os impactos negativos, incluindo limites para o cultivo, melhor rastreabilidade e investimentos em governança comunitária e energia descentralizada.
O impulso dado pelo Brasil aos biocombustíveis reflete um ressurgimento perigoso desses produtos como uma commodity global, que ameaça repetir o erro da "corrida do ouro dos biocombustíveis" em meados dos anos 2000, a qual provocou desmatamento em larga escala, perda de biodiversidade e violações dos direitos humanos. “As evidências são claras: queimar plantações para gerar combustível é uma má ideia. Não podemos ignorar os efeitos que isso causa no clima, na ecologia e na segurança alimentar. Os governos precisam buscar alternativas verdadeiramente sustentáveis, em vez de insistir em soluções que, em muitos casos, causam mais danos do que benefícios”, afirmou Cian Delaney, ativista de biocombustíveis da T&E.