Disponibilidade cai 7% em uma década e agrava estresse hídrico

16/12/2025
O crescimento da procura, combinado à escassez estrutural em algumas regiões, agrava o estresse hídrico e coloca desafios crescentes ao desenvolvimento sustentável.

Segundo dados atualizados do sistema Aquasat 2025, divulgado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a disponibilidade de água renovável por pessoa caiu 7% nos últimos dez anos, à medida que a pressão sobre os recursos continua aumentando em várias regiões. Segundo a agência, o crescimento da procura, combinado à escassez estrutural em algumas regiões, agrava o estresse hídrico e coloca desafios crescentes ao desenvolvimento sustentável.

O Aquasat 2025 mostra que regiões como o norte de África e a Ásia Ocidental continuam operando com níveis extremamente baixos de água doce disponível por pessoa. Países como o Kuwait e o Catar figuram entre os que têm os menores recursos hídricos renováveis per capita em nível mundial. Ao mesmo tempo, a captação total de água doce aumentou em várias regiões, agravando a pressão sobre bacias hidrográficas e aquíferos. A agricultura mantém-se como o principal setor consumidor de água no mundo, representando cerca de 72% da captação total em muitas regiões.

Os dados revelam contrastes significativos entre países de língua portuguesa. Brasil e Guiné-Bissau apresentam elevados níveis de água renovável por pessoa, enquanto Cabo Verde enfrenta uma situação de escassez, com menos de 600 m³ por habitante por ano. Angola, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste situam-se em níveis intermédios, embora com padrões distintos de disponibilidade e uso. A agricultura é o principal consumidor de água na maioria destes países, ultrapassando 70% das captações em Moçambique e na Guiné-Bissau. O uso chega a mais de 90% em Timor-Leste. Portugal e Angola apresentam uma distribuição mais equilibrada entre utilização agrícola, industrial e urbana.

O Brasil destaca-se ainda pela escala da irrigação, ocupando o 9º lugar mundial entre os países com maior área equipada para sistemas de irrigação avançados que oferecem gerenciamento preciso e automatizado. O relatório apresenta valores atualizados dos indicadores do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, ODS, 6.4. As metas acompanham a eficiência do uso da água e os níveis de estresse hídrico. Embora a eficiência tenha melhorado, em várias regiões, muitos países continuam a notificar níveis elevados de estresse, especialmente onde as retiradas de água excedem de forma regular os recursos renováveis disponíveis.

Para a FAO, os dados recolhidos diretamente junto dos países reforçam a necessidade de uma gestão mais sustentável da água e de políticas que aumentem a resiliência face à crescente pressão sobre recursos hídricos, num contexto de alterações climáticas e aumento da procura global. O Aquasat é o sistema global de informação da FAO sobre água e agricultura e constitui uma referência fundamental para a monitorização dos recursos hídricos a nível mundial. Os dados são fornecidos por instituições nacionais e validados em cooperação com os países, garantindo comparabilidade e rigor estatístico. A edição de 2025 está disponível on-line, com o objetivo de apoiar o planejamento baseado em evidências, o acompanhamento dos ODS e a cooperação internacional em matéria de gestão sustentável da água.