Feira promove debates sobre saneamento e resíduos nos três dias

01/07/2025
O evento promoveu discussões estratégicas e reuniu um público seleto de especialistas e representantes governamentais, reforçando seu papel central no setor.

A IFAT Brasil 2025 (Feira Internacional para Água, Esgoto, Drenagem e Soluções em Recuperação de Resíduos) ocorreu entre 25 e 27 de junho no São Paulo Expo e consolidou a feira como uma plataforma essencial para profissionais e empresas que buscam soluções em gestão de água, esgoto, resíduos sólidos e recuperação energética. O evento promoveu discussões estratégicas e reuniu um público seleto de especialistas e representantes governamentais, reforçando seu papel central no setor. Com 230 expositores, público de todos os estados do Brasil e todos os países da América do Sul, 79 horas de conteúdo de extrema qualidade no Congresso Internacional IFAT Brasil 2025 junto ao Solutions Lounge, Arena de Inovação e Startups e Arena de Demonstração, o evento uniu, em um só ambiente, debates e soluções de saneamento básico, tema importante não só para a infraestrutura nacional, como também para a saúde da população. “A IFAT Brasil nasceu para impulsionar essa transformação, conectando tecnologia, conhecimento e pessoas em torno de um propósito comum. Ver esse ecossistema reunido, engajado e comprometido nestes três dias é a prova de que estamos no caminho certo para fazer a diferença, não só no setor, mas na sociedade, no Brasil e na América Latina”, disse Rolf Pickert, CEO da Messe Muenchen do Brasil, organizadora do evento.

A primeira edição da IFAT Brasil foi realizada no ano passado. A partir desta edição, ela passará a ser bianual: o próximo evento brasileiro está marcado para 2027. Com isso, a principal feira IFAT do mundo, em Munique (Alemanha), ficará intercalada com a feira no Brasil (2026 será em Munique, 2027 em São Paulo, e assim por diante). Com curadoria das principais entidades do setor, o Congresso Internacional IFAT Brasil aprofundou as discussões sobre temas essenciais para o meio ambiente, incluindo a universalização do saneamento básico, a valorização de resíduos e a descarbonização da economia. O congresso também destacou as tendências que estão definindo o futuro da gestão ambiental. Além disso, o evento contou com o auditório Blue Stage, dedicado à gestão hídrica, e o auditório Orange Stage, voltado para gestão de resíduos, energias renováveis e economia circular. “Participar tem um duplo significado para mim. Como profissional, é um privilégio imenso. Pude visitar vários estandes, conversar com fornecedores e trocar conhecimentos com pessoas da academia, o que tem sido um intercâmbio muito enriquecedor. Já como representante da Caixa, é uma honra poder atuar como patrocinadora e impulsionar o setor de saneamento. A feira está de parabéns e esperamos que ela retorne ao Brasil muitas outras vezes”, disse Felipe Rene Cardoso, coordenador de Projetos Matriz da CAIXA.

A edição teve ainda três atrações especiais voltadas à experiência prática e à troca de conhecimento. A Arena de Demonstração trouxe apresentações ao vivo de equipamentos em uma área de mais de 2 mil m², funcionando gratuitamente todos os dias. Já a Arena de Inovação e Startups reuniu soluções tecnológicas emergentes e empresas que estão transformando o setor de água e saneamento, promovendo conexões estratégicas e tendências. Complementando a programação, o Solutions Lounge ofereceu um espaço aberto para expositores compartilharem cases de sucesso com o público visitante, com inscrições feitas na hora. A IFAT Brasil tem Patrocínio Ouro+ da CAIXA e Governo Federal.

O Congresso Internacional foi dividido em duas arenas: Blue Stage, espaço dedicado à gestão inteligente da água e do esgoto; e Orange Stage, com discussões sobre os caminhos para a modernização da limpeza urbana e a transição para um modelo de economia circular no Brasil. “O que é praticado na Europa nem sempre pode ser replicado diretamente no Brasil, mas há muita troca. Nosso país também oferece aprendizados relevantes que podem ajudar outras regiões a se desenvolverem”, explicou Fabiane Wahlbrink, diretora da VDMA no Brasil. Segundo ela, a missão da entidade vai além de promover feiras e rodadas de negócios. “Nosso papel é dar suporte real às empresas associadas, entendendo as particularidades locais e fomentando inovação com base em dados concretos. Queremos ajudar empresas a entenderem o mercado, adaptarem seus produtos e maximizarem seus resultados com base em informações sólidas”, afirmou.
Em seguida, Nathalie Wagner trouxe um panorama detalhado do desempenho da tecnologia de processamento e de equipamentos industriais na América Latina. O Brasil foi responsável por 26% das exportações do setor em 2024, ficando atrás apenas do México, com 30%. Ao todo, as exportações somaram € 315 milhões (R$ 2 bilhões) no ano, na região. “Apesar de oscilações recentes, o primeiro trimestre de 2025 já demonstra uma recuperação significativa nas exportações para o Brasil, o que mostra o potencial de crescimento contínuo nesse mercado”, afirmou Wagner. A executiva destacou que, mesmo em mercados com volumes relativamente menores, como o de água, avaliado em € 55 milhões (R$ 353 milhões), o Brasil aparece como segundo maior destino das exportações, com 25% do total, atrás apenas do México (46%). “Ao observarmos os três primeiros meses de 2025, já notamos um aumento importante no volume exportado, comparado aos últimos anos. Isso mostra um ambiente mais promissor, com oportunidades que vão além do mercado tradicional”, apontou. A VDMA vem reforçando sua atuação na América Latina, oferecendo dados de mercado, análises técnicas e suporte direto às empresas associadas interessadas em expandir negócios na região. “A demanda por equipamentos eficientes e tecnologias mais limpas é crescente. O Brasil tem condições técnicas e industriais para ser referência não apenas como consumidor, mas como parte ativa no ecossistema global”, disse Wagner.
A participação do Pacto Global – Rede Brasil na Blue Stage destacou o papel das empresas na construção de um futuro mais sustentável. Criado pelas Nações Unidas nos anos 2000, o Pacto reúne mais de 25 mil empresas em 167 países e é considerado a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo. “As empresas deixaram de ser espectadoras e passaram a ser vetores essenciais para transformar o cenário global”, afirmou Rafael Carmo, analista sênior de captação da entidade. Ao todo, são 13 iniciativas voltadas à crise climática. Na frente hídrica, os desafios são urgentes: segundo dados apresentados por Andresa Cassiano, analista sênior de água, oceano e resíduos, 35 milhões de brasileiros ainda vivem sem acesso à água potável, e mais de 130 milhões não têm saneamento adequado. “Sem saneamento não há saúde, não há educação, não há cidadania. Esse é um problema social, e não apenas técnico ou ambiental”, afirmou. Ela também reforçou a importância de olhar para o ODS 12, voltado ao consumo e produção responsáveis. “Se continuarmos nesse ritmo, até 2060 a extração de matérias-primas aumentará 60%, mas apenas 8,6% desse total entra hoje na circularidade. Precisamos colocar a dimensão social no centro do debate sobre resíduos”, completou. Já no auditório Orange Stage do Congresso Internacional houve o debate “Melhores práticas do setor de biogás e biometano no Brasil – Cases de Sucesso ABiogás”, promovido pela Associação Brasileira do Biogás. O encontro reuniu autoridades e especialistas de empresas que atuam em diferentes elos da cadeia produtiva do biogás e do biometano. Mediado por Talyta Viana, coordenadora de Assuntos Regulatórios da ABiogás, o debate destacou o papel estratégico do biometano como vetor da transição energética no Brasil, com ênfase nas iniciativas implementadas no estado de São Paulo. “Hoje, a ABiogás representa mais de 160 associados em toda a cadeia do setor, reforçando o potencial e a diversidade de aplicações dessa fonte renovável”, afirmou Talyta na abertura. Representando a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo (Semil-SP), Laís Almada, assessora de Energia e Mineração, destacou o protagonismo paulista no avanço das políticas públicas voltadas ao uso do biometano. “São Paulo assumiu o compromisso com a neutralidade de carbono até 2050 perante a ONU, e isso se traduz no nosso Plano Estadual de Energia, baseado na economia circular”, explicou. Entre as ações já em pauta pelo governo estadual, Laís ressaltou a redução de ICMS sobre o biometano, isenções de IPVA para caminhões e ônibus movidos a gás, além da criação de um aplicativo que conecta toda a cadeia do biometano em um ecossistema online voltado à geração de negócios. Segundo a assessora, São Paulo tem potencial para substituir grande parte do consumo de gás fóssil por biometano, consolidando-se como uma referência no setor.

O debate também abordou os avanços regulatórios essenciais para viabilizar a expansão do biometano. Amauri Gavião, diretor de Regulação Técnica da Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo), afirmou que a atuação da agência tem sido decisiva para estruturar o mercado. “O biometano tem a mesma finalidade que o gás natural, mas com benefícios ambientais. A primeira distribuição em São Paulo aconteceu em 2017. Hoje, temos quatro plantas em operação”, disse. Pedro Maranhão, presidente da Abrema (Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente), enfatizou a importância da interiorização dos projetos e do papel dos aterros sanitários. “Quase todos os grandes aterros estão migrando para o biometano. São Paulo é protagonista, mas temos projetos no país todo, como em Fortaleza, onde o biometano já representa entre 20% e 25% do gás consumido. Os aterros precisam ser cada vez mais regionalizados, o que exige um esforço grande de infraestrutura e regulação.”Representando a Orizon, Caroline Pinho, gerente de Energia e Biocombustíveis, apresentou as iniciativas da empresa para fomentar a economia circular por meio do biometano.