Economia circular pode ajudar siderurgia a reduzir emissões

25/09/2025
Relatório “Economia circular como alavanca para a descarbonização do setor siderúrgico brasileiro”, mostra que a economia circular é um caminho promissor para reduzir a emissão de gases do efeito estufa nas atividades da siderurgia.

O Instituto Brasileiro de Economia Circular (Ibec) acaba de lançar o relatório “Economia circular como alavanca para a descarbonização do setor siderúrgico brasileiro”, mostra que a economia circular é um caminho promissor para reduzir a emissão de gases do efeito estufa nas atividades da siderurgia. Com o apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS), o estudo foi desenvolvido a partir de entrevistas com 11 organizações, incluindo seis siderúrgicas brasileiras e a Vale. Embora o setor já adote práticas circulares, como transformação dos resíduos, uso de sucata e coproduto, o levantamento apontou que é necessário superar obstáculos para desenvolver uma abordagem mais sistêmica.

O material traz um olhar para o cenário global da circularidade no setor do aço e explora a realidade atual da indústria no Brasil, diante das suas ações para a descarbonização. O setor siderúrgico está entre os maiores emissores de carbono e responde por 8% a 10% das emissões globais de CO2. Para que alcance metas de descarbonização, é necessário combinar investimentos em tecnologias maduras e emergentes com ajustes regulatórios, além de ampliar a perspectiva para novos modelos de negócios. No Brasil, a indústria siderúrgica estabeleceu metas para reduzir de 15% a 50% as emissões de CO2 até 2030, e para alcançar a neutralidade de carbono até 2050. “Para uma transição eficaz, a descarbonização e a economia circular devem ser vistas como ações integradas e complementares, com o apoio da liderança e uma visão ampliada da estratégia. Até 2050, espera-se que 50% das reduções de emissões venham de tecnologias que ainda não estão disponíveis em escala. Portanto, é preciso criar demanda de forma antecipada, começar a mudar o mercado, para catalisar a viabilidade de novas soluções e a adoção comercial de forma ampliada”, explica a presidente do Ibec e responsável pelo estudo, Beatriz Luz.

A economia circular oferece novas bases para o desenvolvimento econômico, com diferentes percepções de valor, processos, indicadores e relações. Segundo a análise, o setor siderúrgico pode ganhar muito ao aplicar uma visão sistêmica e uma estratégia que integre os diferentes elos da cadeia produtiva. Para a produção do relatório, foram ouvidos representantes da Aço Verde do Brasil (AVB); Aperam; ArcelorMittal; Companhia Siderúrgica Nacional (CSN); Gerdau; Usiminas, Vale; Instituto E+; Instituto Aço Brasil; Departamento de Engenharia Química e Materiais (DEQM) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio); e Centro de Tecnologia Mineral (CETEM). O Comitê de Sustentabilidade e Economia Circular da Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração (ABM) facilitou as interações e entrevistas. Para avançar com a descarbonização por meio da economia circular e materializar soluções circulares em escala, é fundamental fomentar a integração multissetorial, unindo a mineração e à siderurgia a segmentos como o de infraestrutura e o agronegócio, por meio de modelagens colaborativas.

O relatório apresenta evoluções da economia circular para o setor siderúrgico brasileiro, que está vivendo a segunda de quatro “ondas” da circularidade. Isto significa que já existe uma percepção consolidada do aço como material circular, o valor dos resíduos como coprodutos e o investimento em energias renováveis; porém, ainda há muito potencial a ser explorado. A evolução da segunda para a terceira onda é o que mostra o potencial elevado para a descarbonização, ao posicionar a circularidade como parte da cultura do negócio e inerente à tomada de decisão, incluindo novos modelos de parcerias multissetoriais e garantindo o ganho de escala para as soluções circulares. Na quarta e última onda, o setor siderúrgico do Brasil expandiria a sua atuação, participando de debates globais e destacando o protagonismo tecnológico e a presença da circularidade em múltiplas agendas. “A economia circular vista pelas áreas de operação e meio ambiente se limita a perspectivas do valor circular do material. É tempo de expandir o debate para outros departamentos, de a liderança abraçar essa pauta estratégica e ir além das fronteiras do negócio. Um novo modelo de governança em rede é capaz de conectar múltiplos setores, transformar custos em investimentos e gerar ganhos de competitividade. Além disso, teríamos a siderurgia contribuindo para alavancar a circularidade em outros setores, enquanto reduz custos, transforma passivos em ativos e minimiza impactos”, afirma Beatriz Luz.

Para reforçar o cenário atual e mostrar o potencial da economia circular para a siderurgia brasileira, o Instituto Brasileiro de Economia Circular elaborou uma Matriz de Descarbonização e Maturidade Circular, que classifica a maturidade das ações em quatro dimensões de Estruturas de Circularidade Organizacional. As ações foram posicionadas de acordo com o nível de profundidade (abordagem concentrada ou abordagem sistêmica) e a amplitude para a descarbonização do setor (iniciativas internas e iniciativas multissetoriais). Os resultados demonstram que a maioria das práticas de circularidade identificada pelas empresas brasileiras seguem uma visão concentrada em ações internas, enquanto as empresas globais demonstram uma abordagem mais abrangente, com um potencial elevado de criação de valor e, consequentemente, maior potencial de contribuição para a descarbonização.