Pastagens convivem sob crescente ameaça
Durante a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD, na sigla em inglês), que está sendo realizada no Panamá — a 23ª sessão do Comitê para a Revisão da Implementação da Convenção (CRIC23) apontou que das terras áridas da América Latina e da África até as estepes da Ásia Central, as pastagens sustentam a segurança alimentar, a estabilidade climática e culturas pastoris seculares. As vastas paisagens, que cobrem metade do planeta, armazenam quantidades significativas de carbono, amortecem os extremos climáticos e regulam a água em algumas das regiões mais secas do mundo.
Apesar de seu imenso valor, as pastagens continuam sendo um dos ecossistemas mais negligenciados do planeta. Em diversas regiões, elas estão se deteriorando mais rapidamente do que as florestas tropicais, com sérias implicações para a segurança alimentar, a resiliência climática e os meios de subsistência rurais. A restauração de pastagens oferece um dos retornos mais expressivos de qualquer investimento em ecossistemas, com benefícios que chegam a US$ 35 para cada dólar investido. Essas novas conclusões preliminares de uma análise global de custo-benefício conduzida pela Iniciativa de Economia da Degradação da Terra (ELD, na sigla em inglês) foram apresentadas na Convenção. “A análise confirma o que muitas comunidades pastoris já sabem há muito tempo: as pastagens são ativos ecológicos e econômicos estratégicos, não terras marginais. Esses ganhos provêm de maior produtividade da vegetação, maior armazenamento de carbono, melhor retenção de água e prevenção da degradação”, disse o cientista-chefe da UNCCD, Barron Joseph Orr.
“A urgência é evidente. Entre 25% e 50% das pastagens do mundo estão degradadas ou em risco, enfraquecendo os ciclos da água, a produtividade pecuária, a biodiversidade e os meios de subsistência rurais. Em regiões como o Sahel, a Ásia Central e partes da América do Sul, as pressões climáticas já estão reduzindo a produtividade e restringindo a mobilidade dos pastores – com efeitos subsequentes na segurança alimentar”, disse Orr. Para Mark Schauer, Oficial Sênior de Programas da Cooperação Alemã, para o Desenvolvimento (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit, GIZ), que coordena a Iniciativa ELD, afirmou: “A restauração de pastagens faz sentido tanto do ponto de vista econômico quanto ecológico. Ao fortalecer a base de evidências e estabelecer parcerias com comunidades pastoris, podemos ajudar os países a desenvolver investimentos que promovam a resiliência a longo prazo”.
Por mais de uma década, a Iniciativa ELD tem fornecido aos governos evidências sobre o real valor econômico de terras saudáveis e as perdas significativas causadas pela degradação. Seu novo documento de discussão, "A justificativa comercial para o investimento na restauração de pastagens", apresentado na CRIC23, será seguido por uma avaliação completa na COP17 da UNCCD, na Mongólia, em agosto próximo. “Um crescente conjunto de evidências confirma que as pastagens — há muito tempo descartadas como espaços marginais ou 'vazios' — são, na verdade, essenciais para a ação climática, a segurança alimentar e hídrica e o desenvolvimento rural sustentável. Com a avaliação econômica completa prevista para antes da COP17, a CRIC23 fortaleceu as bases técnicas e políticas necessárias para ampliar o investimento nessas vastas paisagens vitais”, acrescenta Schauer.
Especialistas enfatizaram que a restauração eficaz de pastagens não depende de obras de engenharia dispendiosas. Ela requer direitos seguros sobre a terra e a água, governança liderada pela comunidade e pastoreio sustentável baseado na mobilidade. Quando os pastores podem se deslocar de acordo com as condições sazonais, a vegetação se recupera mais rapidamente, os solos retêm mais umidade e os estoques de carbono permanecem estáveis. Essa abordagem também fortalece a resiliência dos povos indígenas, mulheres, jovens e outros cujos meios de subsistência e identidades culturais estão profundamente ligados às pastagens. A CRIC23 acontece enquanto os países se preparam para o Ano Internacional das Pastagens e dos Pastores (AIP) de 2026, declarado pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Espera-se que o AIP traga uma visibilidade sem precedentes às pastagens, aos pastores e aos seus sistemas de conhecimento. “Os pastores cuidam dessas terras há gerações. Seu conhecimento, mobilidade e gestão são essenciais para restaurar as pastagens e construir resiliência. Enquanto o mundo se prepara para o Ano Internacional das Pastagens e dos Pastores, devemos garantir que as comunidades pastoris não apenas sejam ouvidas, mas também apoiadas como parceiras em ações de sustentabilidade climática e ambiental”, disse Enrique Michaud, copresidente da Aliança Global do Ano Internacional das Pastagens e dos Pastores.
“A Mongólia é uma nação moldada por pastagens e tradições pastoris. Sabemos por experiência que, quando as pastagens prosperam, as comunidades prosperam. Ao nos prepararmos para sediar a COP17, uma de nossas principais prioridades é elevar as pastagens à agenda global e garantir que os países tenham as evidências, as parcerias e o investimento necessários para restaurar esses ecossistemas vitais em grande escala”, observa Ariuntuya Dorjsuren, Diretor-Geral da Divisão de Cooperação Internacional do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas da Mongólia. A UNCCD está contribuindo para o Ano Internacional das Pastagens (IYRP) por meio de sua Iniciativa Emblemática de Pastagens e da campanha Rota da Seda, planejada para 2026, que destacará as paisagens de pastagens e as culturas pastoris ao longo dos 6.000 quilômetros da jornada, abrangendo 10 países. Esses esforços se baseiam no impulso político da COP16 em Riade para a COP17 em Ulaanbaatar, alinhando as presidências recentes e futuras da COP em torno da elevação das pastagens como uma prioridade global para o clima e os meios de subsistência.