Mulheres emitem 26% menos GEEs do que os homens
Segundo estudo do Instituto Grantham, ligado à London School of Economics (LSE), as mulheres emitem, em média, 26% menos gases de efeito estufa (GEE) por ano do que os homens. A análise considerou hábitos de transporte e alimentação na França, responsáveis por cerca de metade das emissões individuais, e encontrou um padrão consistente: enquanto os homens geram cerca de 5,3 toneladas de CO₂ equivalente por ano, elas emitem 3,9 toneladas. A pesquisa destaca que a crise climática também é moldada por costumes e padrões culturais de consumo, e não apenas por decisões políticas ou avanços tecnológicos. Entre os principais fatores da diferença está o uso do transporte, no qual os homens tendem a usar mais o carro particular, enquanto as mulheres optam mais por meios coletivos ou de menor impacto. A alimentação também aparece como vetor importante, o consumo de carne é maior entre os homens.
Embora realizado na França, especialistas apontam que os padrões se repetem em diferentes países, inclusive no Brasil. Para Fernando Beltrame, CEO da Eccaplan e especialista em estratégia Net Zero, o levantamento é um convite à reflexão sobre o papel da cultura nas emissões. “A discussão sobre clima precisa ir além da tecnologia e incluir nossos hábitos cotidianos. A forma como nos deslocamos, o que comemos e como consumimos têm peso real na conta de carbono. Quando olhamos os dados com esse recorte, percebemos que mudar padrões culturais pode ser tão poderoso quanto criar uma nova solução tecnológica”, afirma. O especialista destaca que não se trata de apontar culpados, mas de reconhecer que gênero, assim como renda, classe social e acesso à infraestrutura, influencia diretamente o impacto ambiental de cada pessoa. “Essas informações ajudam a desenhar políticas públicas mais eficazes e também a orientar estratégias empresariais mais realistas e inclusivas”.
Fernando Beltrame comenta ainda a importância de se ter dados rastreáveis e comparáveis para orientar ações de compensação e mitigação de emissões. “Hoje, já é possível calcular com precisão a pegada de carbono de comportamentos cotidianos, como a escolha do transporte ou de itens no carrinho do supermercado. Esse nível de detalhamento permite que empresas e indivíduos não apenas mensurem seu impacto, mas tomem decisões mais embasadas na hora de compensar emissões. Quanto mais transparente e acessível for esse tipo de dado, mais eficaz será a construção de soluções climáticas integradas e verificáveis”. A divulgação do estudo acontece em um momento em que temas como transparência nas emissões, consumo consciente e pegada de carbono individual ganham espaço em conferências internacionais, como a COP30. A expectativa é que discussões como essa ajudem a construir soluções mais equitativas e adaptadas à realidade de diferentes grupos sociais, com dados, não suposições, no centro das decisões.
Além de análises internacionais, já existe uma forma gratuita e simples de estimar a pegada de carbono de comportamentos cotidianos, como o uso de transporte, consumo de energia e alimentação. A plataforma brasileira CarbonFair, desenvolvida pela Eccaplan, permite que qualquer pessoa calcule suas emissões com base no que consome, mesmo que só tenha em mãos o valor gasto com gasolina, energia elétrica ou passagem de avião.A calculadora considera preços médios nacionais atualizados para converter gastos em unidades físicas, como litros ou quilometragem, e aplica os fatores oficiais de emissão. Isso permite identificar o impacto real de decisões simples do dia a dia. Casais, colegas de trabalho ou membros da mesma família podem, por exemplo, comparar seus perfis de emissão e refletir juntos sobre escolhas com menor impacto. Com acesso gratuito, a ferramenta reforça que medir é o primeiro passo para reduzir, e que a transformação climática também começa em casa.