Crise hídrica avança em São Paulo, mas governo afasta racionamento imediato
Com os reservatórios operando em níveis considerados críticos e sob a pressão de um consumo elevado provocado pelo calor intenso, o governo do Estado de São Paulo acendeu o sinal de alerta e voltou a pedir a colaboração da população para o uso consciente da água. Apesar do cenário preocupante, a gestão estadual afirma que, no momento, não há previsão de racionamento, apostando em medidas operacionais e na economia voluntária para preservar o abastecimento da Região Metropolitana.
Os reservatórios do Sistema Integrado Metropolitano, que reúne sete mananciais responsáveis pelo abastecimento de cerca de 22 milhões de pessoas, operam com apenas 26,2% da capacidade útil, um dos menores índices dos últimos dias. Os volumes de represas como Alto Tietê e Cantareira, essenciais para o fornecimento de água na região, permanecem próximos a 20% da capacidade total.
A combinação de chuvas aquém da média histórica e uma onda de calor recorde que elevou o consumo em até 60% nas últimas semanas tem pressionado ainda mais os sistemas de abastecimento. Esse déficit hídrico, reforçado pelo aumento da demanda, levou o governo a recomendar um uso mais consciente da água em residências, comércio e serviços públicos.
A secretária estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende, destacou que, apesar das condições adversas, o Estado segue monitorando a situação e ainda não considera iminente um racionamento formal de água. Ela explicou que medidas de gestão já implementadas, como a redução da pressão de água durante a noite — entre 19h e 5h — foram adotadas para diminuir o consumo e preservar os mananciais, gerando uma economia estimada em 57 bilhões de litros desde agosto até meados de dezembro.
A política de gestão de demanda, coordenada em conjunto com a Sabesp e a Agência Reguladora de Serviços Públicos (Arsesp), faz parte de um plano de contingência que classifica os níveis de água por faixas de alerta. Atualmente, a região metropolitana encontra-se na chamada “faixa 3”, em que se intensificam ações para conter o avanço da crise, sem, contudo, desencadear o rodízio de abastecimento, que seria adotado apenas em casos de emergência mais severa.
Apesar das medidas, especialistas em recursos hídricos observam que a continuidade de períodos prolongados de calor e a falta de chuvas substanciais nos reservatórios podem manter a pressão sobre o sistema nos próximos meses, especialmente durante o verão. A atuação coordenada entre poder público, empresas de saneamento e sociedade civil continua sendo crucial para mitigar os riscos de desabastecimento mais agressivo.
O momento atual reforça um alerta mais amplo sobre gestão sustentável da água, não apenas em períodos de crise, mas como política contínua de planejamento urbano e proteção dos recursos naturais. A crise hídrica em São Paulo evidencia a importância de estratégias integradas de uso racional, recuperação de mananciais e inovação tecnológica para garantir segurança hídrica a longo prazo em uma das maiores metrópoles do mundo.