Al Gore elogia papel do BNDES para avançar em energias limpas
O ambientalista Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, afirmou na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio, que a gravidade da crise climática é muito grande e ainda não está sendo compreendida pelo número suficiente de pessoas. “Talvez este seja o desafio mais complicado que a humanidade já enfrentou”, disse. As declarações foram feitas durante o evento “Mudança Climática, Desenvolvimento Sustentável e Democracia", em formato de diálogo entre Gore e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, dois dos principais atores globais no debate sobre sustentabilidade e democracia. Ambos enfatizaram a necessidade de ampliar as frentes de cooperação multilateral e de diálogo entre países para avançar não apenas na agenda climática, mas também em outros problemas enfrentados globalmente, incluindo o comércio mundial e a escalada de conflitos armados. “A construção de princípios e compromissos vinculantes, com fortalecimento das instituições multilaterais, é muito melhor para a humanidade do que assistir ao retorno a uma ordem unilateral autoritária”, avaliou Mercadante.
Al Gore elogiou o modelo do BNDES que mobiliza recursos privados com mitigação de riscos para os envolvidos. “O papel do banco público é catalisar e construir parcerias com o setor privado”, resumiu Mercadante, citando a retomada da política do BNDES para investimento em empresas, com foco nos setores de descarbonização, economia verde e inovação digital. Segundo Al Gore, cerca de 175 milhões de toneladas de poluentes gerados pela atividade humana são lançadas diariamente na atmosfera e isso cria efeitos negativos em massa, incluindo impactos para os oceanos, desertificação de áreas e migrações forçadas. Entre as formas de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, o ex-vice-presidente mencionou aço verde, cimento verde e meios de transporte menos poluentes.
O ex-vice-presidente dos Estados Unidos está otimista com os resultados da COP30 e avaliou que o Brasil tem condições de se posicionar no centro do debate, mas apontou a importância de evitar que as negociações fiquem estagnadas. Mercadante destacou a relevância estratégica de realizar o evento na Amazônia, mas também defendeu uma maior articulação dos movimentos sociais em eventos anteriores à COP.
A cultura de paz foi um dos aspectos destacados pelo presidente do BNDES: “Apenas 15 países no mundo mantêm relação com todas as outras nações, e o Brasil é um deles”, comentou. Mercadante disse ainda a extensa atuação do BNDES no financiamento de ações relacionadas aos extremos climáticos. No caso do Rio Grande do Sul, o Banco teve papel decisivo na reconstrução do Estado, com aporte de R$ 29 bilhões. O BNDES também faz a gestão do Fundo Rio Doce, que conta com R$ 49 bilhões para reparação do desastre ambiental ocorrido em Mariana (MG) em 2015. Em outra frente, o Banco já aprovou mais de R$ 1 bilhão no Fundo Amazônia em 2025.
O presidente também mencionou a liderança do BNDES no financiamento a biocombustíveis, energias renováveis, eletromobilidade e inovação. Segundo levantamento da Bloomberg, o BNDES é o maior financiador global de projetos de energia limpa. O próximo horizonte é mobilizar recursos para avançar na recuperação dos oceanos. Segundo Mercadante, 14% dos corais do planeta já foram perdidos. Para Al Gore, o BNDES é um modelo para outros países e está pavimentando o caminho para a resolução da crise climática. “Vocês estão fazendo o que muitos países não conseguiram, trazendo capital privado e com risco reduzido. Os servidores e as empresas parceiras do BNDES precisam estar orgulhosos de fazerem parte do Banco. Espero que todos entendam como essa instituição é especial”, disse.
Em relação ao consumo de energia associado ao uso de inteligência artificial, Al Gore disse acreditar que a demanda deve diminuir nos próximos anos, com o desenvolvimento de novas tecnologias. Para ele, trata-se de um tema que exige atenção, mas não é motivo de alarme. “É preciso buscar mecanismos de ajuste na contabilidade de créditos de carbono, incluindo formas de precificar os prejuízos das emissões de carbono. Esse tipo de iniciativa – com novos impostos – enfrenta resistências nos EUA e outros países”. Mercadante avaliou que esse mercado tem muito potencial de crescimento, mas lembrou a necessidade de ter muito rigor na avaliação dos créditos.
O presidente do BNDES também criticou o tarifaço imposto pelo governo Trump contra o Brasil, exaltou o bloco do Brics como uma forma de estimular a cooperação entre os países do Sul Global e defendeu a regulação do setor de big techs como forma de proteger a sociedade. Segundo o presidente, o BNDES está pronto para apoiar as empresas atingidas pelas medidas tarifárias. “Precisamos olhar para os EUA naquilo que o país tem de valores mais profundos: liberdade, compromisso ambiental e sustentabilidade. E Al Gore é um belo embaixador desses EUA de que o mundo sente saudades”, comentou Mercadante.